Em muitos anos de trabalho e estimulação com pessoas com autismo observo um fenômeno: nos deparamos com mães absurdamente persistentes e convictas no potencial de seus filhos.
Como minha área de atuação envolve a alfabetização e os anos seguintes da vida acadêmica me deparo com mães que chegam já avisando: eu sei que meu filho é capaz de aprender, deve haver alguma forma, alguma coisa está errada, preciso descobrir como! E elas tem razão!
Essa geração que teve os primeiros filhos com autismo em escolas especiais, e posteriormente inseridos na escola regular brigaram e bradaram que seus filhos eram capazes, são pioneiras que abriram, à foice, um caminho tortuoso para garantir que seus filhos tivessem direito há um mínimo de oportunidades no ensino regular.
Quando recebo uma mãe que diz: “tenho certeza que meu filho tem capacidade de aprender, pelo menos a ler!”, frequentemente elas estão certas, apesar de passarem um grande tempo lidando com pessoas que as tratam como apenas mães com fé e esperança. Felizmente elas provaram que não é só esperança, existia um potencial ali, faltavam profissionais, métodos, estratégias, e principalmente, um trabalho árduo e sistematizado que investigasse, minuciosamente o que poderia funcionar para essa criança, afinal já sabemos que essa inclusão que oferecemos, salvo algumas exceções, foi apenas geográfica e algumas vezes social. Faltou capacitar o professor e deixar muito claro que a aprendizagem dessa criança não se daria apenas assistindo as aulas junto com os outros. Seria preciso observar, analisar, programar e reprogramar as estratégias que pudessem favorecer a aprendizagem dessa criança.
Isso tudo envolve muitas variáveis que a escola ignora. É preciso gente para fazer essa engrenagem funcionar, é preciso um plano de ação consistente feito pela equipe escolar e terapêutica em conjunto com a família dessa criança. É preciso disponibilidade para anotar tudo o que foi feito, a forma que foi feito e como a criança reagiu. É preciso um trabalho com métricas. É preciso uma equipe coesa que se reúna frequentemente. Não é possível ver progresso com uma equipe escolar que não discuta o caso no mínimo a cada 15 dias, e veja o que está dando certo ou não, e busque novas estratégias junto à equipe terapêutica. Não é o caso de aguardar um mês, um trimestre, um semestre, um ano.
O tempo é muito precioso para essa criança. Quando uma criança neurotípica é negligenciada na metodologia de ensino, ela consegue, em algum momento do ano escolar, superar e aprender por recursos próprios, por associação de ideias, por uma aula melhor que atingiu também os objetivos anteriores. Com a criança com autismo não. Quando essa criança fica em um ambiente não propicio para a aprendizagem desenvolve comportamentos adaptativos que gritam: “não está dando certo, não estou aprendendo assim!” . E isso é o inicio da tragédia, porque fará os adultos acharem que ela precisa primeiro melhorar o comportamento, para depois aprender. Quando é o contrário: quanto mais essa criança estiver aproveitando os estímulos e aprendendo, menos comportamentos inadequados vai desenvolver.
Não adiantam leis, métodos, técnicas e estratégias se todo o staff continuar oferecendo o que é possível no momento. O avanço não vem dessas pessoas que respondem que estão fazendo o que pode, ou o quê é possível, ou tendo uma ideia e fazendo uma tentativa, ou dizendo: “aqui fazemos do nosso jeito”. Precisamos estudar e olhar as evidências científicas de quem já obteve resultados (Leia-se Análise Aplicada do Comportamento), e isso demanda a capacitação de toda a comunidade de ensino. Inclusão não é suficiente. Mães e pais tem razão, crianças com autismo também aprendem. Precisamos generalizar o melhor que a ciência já demonstrou de efetivo para essa população, e fazer isso funcionar nas escolas.
Meu Caio Munchen esta alfabetizado, lendo, uma memória fantástica… Sempre tive certeza que meu filho tinha capacidade e falo mais tudo que vc desejar e quer pro seu filho juntos, acontece .