Apraxia da fala na infância (AFI) é um distúrbio motor da fala que afeta o planejamento e o sequenciamento dos sons da fala. A criança sabe o quê dizer, mas os comandos do cérebro não chegam aos músculos necessários para falar. Não é fraqueza muscular, mas uma desconexão entre os sistemas de mensagens do cérebro e da boca.
A AFI tem outros nomes, infelizmente não existe um consenso mundial na nomenclatura. É frequentemente chamada de dispraxia verbal ou até apraxia do desenvolvimento. De toda forma é importante saber que esse é um distúrbio que vai demandar intensa intervenção terapêutica interdisciplinar.
Crianças com AFI apresentam um jogo de sinais bastante amplo, uma criança será diferente da outra. Quanto mais pessoas tivermos (fora da comunidade terapêutica) informadas sobre os atrasos de fala para os devidos encaminhamentos, mais crianças receberão o diagnóstico adequado e o tratamento.
Observe os sinais de alerta para saber quando procurar ajuda:
- Falta de cumprimento de marcos típicos do desenvolvimento da linguagem, como balbuciar ou arrulhar quando bebê, ou não dizer sua primeira palavra por volta de 1 ano idade;
- Dificuldade em dizer um conjunto específico de sons (não sendo capaz de produzir apenas alguns sons);
- Dificuldade em juntar sons para formar palavras;
- Inconsistências ao dizer sons, como produzi-los um dia e depois não poder produzi-los no dia seguinte;
- Capacidade de entender o que as pessoas estão dizendo, mas com problemas para responder (entendem melhor do que se expressam);
- Dificuldade em imitar um som (a incapacidade de imitar um som é um grande alerta, observe que de uma forma geral se uma criança PODE imitar um som isolado, você pode notar que a imitação soa muito melhor do que a fala produzida por si própria;
- Tem baixa inteligibilidade de fala ou nenhuma (difícil de entender suas tentativas de comunicação verbal);
- Usa entonação inadequada quando dizem palavras (dificuldade com prosódia);
- Inconsistência na aquisição de fonemas. Às vezes conseguem falar uma sequência de sons mais complexo e não conseguem verbalizar um som simples (ex: fala LÁPIS e não consegue falar DÁ). Tendem a falar palavras soltas, com grande dificuldade do uso dos conectivos em frases;
- Dependendo do vocabulário da criança, pode buscar a fala como se tivesse um tateio do ponto articulatório;
- Dificuldades na motricidade fina e grossa ou falta de cumprimento desses marcos típicos.
- Geralmente, são crianças inquietas com uma demanda sensorial.
Sabemos que a criança com AFI precisará de intensa e prolongada intervenção fonoaudiológica (muitos até a vida adulta) e muitas vezes com mais de uma abordagem, não existe um único método específico para Apraxia de Fala. Não obstante chega um momento em que começam aparecer sequelas na aquisição dos marcos acadêmicos também, levando à necessidade da intervenção psicopedagógica.
O momento ideal para a intervenção psicopedagógica seria ainda na educação infantil, quando a criança está adquirindo os pré-requisitos para a alfabetização, infelizmente recebemos na clínica as crianças que já passaram por 2 ou 3 anos de tentativas de alfabetização, já com muita frustração e vícios adquiridos nas tentativas fracassadas.
A alfabetização da criança com AFI envolve os pré- requisitos, a metologia ou abordagem do estímulo para a leitura, e principalmente a frequência e duração que esse estímulo será apresentado. Muitas vezes saber o que não fazer ou o quê excluir do plano de alfabetização da criança na primeira fase, é tão importante quanto saber qual estímulo dar, já que a maioria das estratégias utilizadas com as crianças sem o distúrbio não funcionam com a mesma eficácia com essas crianças.
A estruturação da escrita, durante a alfabetização também é um ponto que deve receber atenção especial, visto que é comum termos crianças que são ótimas copistas, sem contudo adquirir fluência na leitura, às vezes nem a leitura funcional. Isso tem uma explicação simples: a criança descobre que escrever/desenhar letras é bom, fácil e altamente reforçador, e passa a focar toda sua energia nisso, evitando as atividades que envolvem a decodificação e a aquisição da leitura propriamente dita.
Além disso, muitos outros aspectos precisam ser cuidados: o ritmo de aprendizagem; o modelo de avaliação; a organização de tarefas; o gerenciamento de estresse e da frustração; os aspectos metacognitivos; compreensão e assimilação do conhecimento; concentração e memorização; as habilidades de construção textual (planificação de uma ideia); a capacidade de trabalhar autonomamente; e o uso de novas tecnologias.
Enfim, o desenvolvimento acadêmico da criança com AFI envolve um trabalho árduo entre a família, os terapeutas e a escola e nada do progresso que a família busca será alcançado sem muito estudo e esforço por parte de todos envolvidos para aprender e adotar as melhores práticas (específicas) para essa criança. Isso demanda um plano de desenvolvimento individual consistente e uma equipe que se reúna constantemente para rever os objetivos e avanços e reprogramar as rotas de trabalho.
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