
Criança precisa ser criança, e está cada vez mais difícil de garantir isso. A maioria das crianças que conheço tem agenda de executivo. São muitas atividades extras para garantir que ela vai chegar lá preparada. As únicas coisas que estão garantidas são as crises de ansiedade, estresse e outros males afins. Órgãos de pesquisa e atendimento psiquiátrico no Brasil vêm alertando para o aumento de casos de quadros como transtornos de ansiedade e de depressão na infância e adolescência. Pode não ser a única causa, porém o estilo de vida cheio de pressões é um gatilho para esses quadros.
Defendo muito o direito de estudar e aprender a fazer isso da melhor forma possível, com muito apoio, orientação e pelo tempo adequado, mas não podemos ignorar as outras necessidades da criança.
Cada geração de pais cria nova demanda sobre o que deve proporcionar aos filhos, normalmente baseado naquilo que não tiveram. Entretanto também já existem alguns sinais de reação, dos que percebem que tiveram mais do que seus filhos. Tiveram mais tempo para brincar, levaram a infância com mais leveza, viveram uma aventura no quintal e tiveram tempo de descobrir o mundo em seu próprio idioma, e de forma criativa.
O pior disso tudo é que estamos vendo crianças que, de tão apressadas e pressionadas quanto os adultos, vão perdendo o desejo e o prazer de brincar.
Muito disso porque passaram a ser espectadores das aventuras e brincadeiras. Através dos personagens dos jogos é possível construir, ganhar vidas, começar de novo sempre, isso numa velocidade muito maior do que qualquer coisa que ela possa fazer na vida real. Imaginem uma criança fazendo uma pequena escultura de gesso, misturando, colocando na forma, esperando secar, para então pintar. É muito tempo para o produto final, quando na verdade a criança poderia aproveitar e se divertir durante toda a atividade.
O grande desafio é equilibrar o desejo de proporcionar bons estímulos e suprir as necessidades da criança, como afeto, atenção, presença, orientação, carinho, opinião, enfim, tudo aquilo que construa a identidade da criança junto com a família.
Brincar juntos é um bom começo para um dia chegar ao estudar juntos!