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Discalculia e dificuldades na matemática

Um número expressivo de alunos se autodenomina com problemas para aprender matemática na escola, e outros tantos são sérios candidatos às  dificuldades específicas de aprendizagem matemática (discalculia), mas, há divergências de pontos de vista sobre causas e identificação dessas dificuldades.

 Estudos indicam que poucos alunos realmente tenham uma dificuldade de aprendizagem matemática específica  (vide Carnellor 2004, Westwood 2000 e  Booker, Bond, Sparrow e Swan (2004). A comunidade científica que estuda essa dificuldade sugere  que a maioria dos alunos tem dificuldade aprendida, ou seja, falhas nas metodologias levaram aos problemas matemáticos.

Independentemente do motivo das dificuldades matemáticas dos alunos, ou seja, fatores intrínsecos ou extrínsecos, existe um fator em comum nos dois grupos: estudantes com dificuldades de matemática acreditam que não podem melhorar suas capacidades e aprender. Esse é um fator importante, pois, desde que um indivíduo cria uma barreira emocional à determinados conteúdos ou conceitos, deixam de  sentir-se confiantes para experimentar, cometer erros, discutir e questionar, tentar uma correção ou engajar-se em qualquer atividade que realmente levaria ao avanço.

O maior empecilho para a aprendizagem real da matemática não vem apenas da metodologia, existe o fator repetição, o número de experiências e práticas que é constantemente ignorada nas diretrizes curriculares. O tempo de estímulos normalmente é programado para a média da turma e ignora as necessidades daqueles que não aprenderam com o grupo.

Esses alunos necessitam de instruções e práticas extras, separadas e intensificadas para avançar em cada degrau dessa aprendizagem e, é muito provável que o conteúdo também tenha que ser divido em partes menores, que precisam ser aprendidas e dominadas para haver avanço para as próximas fases, ou seja, não avançar deixando lacunas.

Entretanto, quando temos alunos que passaram por muitas oportunidades de treino e estímulo individualizado e, mesmo assim apresentam um ciclo de praticar e esquecer, para esses   necessária a avaliação psicopedagógica, porque, muito provavelmente será preciso estimular funções cognitivas como abstração e memória operacional, bem como aspectos da metacognição (planejamento e execução).

Quando o aluno é diagnosticado com discalculia, além da instrução individualizada e dos estímulos feitos em atendimento psicopedagógico é muito provável que seja necessário a revisão das metas, visto que, não traz avanço trabalharmos com metas ambiciosas e irrealizáveis quando o aluno não domina itens básicos como conceito de antecessor e sucessor, domínio do sistema decimal e das quatro operações básicas. 

O aspecto da escolha das metas é essencial para o avanço e bem- estar do aluno, trabalhar com metas reais e realizáveis é um grande desafio, porém poderá melhorar a auto estima do aluno e mantê-lo engajado em atividades que envolvam matemática, sem sentir-se incapaz de aprender. De qualquer forma é de consenso de todos que existem aspectos da matemática que são utilizados no dia a dia, esses são chamados de conteúdos essenciais e não devem ser negligenciados.  Quando a meta é inadequada colocamos esse aluno em risco de vulnerabilidade emocional, além de não garantir o ensino real daquilo que seria útil em suas experiências de vida.

Existem alguns sinais que podem indicar ser mais do que apenas uma dificuldade, e que merecem uma avaliação psicopedagógica para investigar a discalculia:

  • Dificuldade para aprender a contar;
  • Dificuldade para conectar um número a um objeto, como saber que “3” se aplica a grupos de coisas como 3 bolos, 3 carros ou 3 amigos;
  • Dificuldades para reconhecer padrões, como do menor para o maior ou do mais alto para o mais baixo, igual e diferente e, conjuntos;
  • Dificuldade em aprender e lembrar fatos básicos sobre números, como ligações numéricas, por exemplo, 6 + 4 = 10 e 4 + 6 =10, e fazer generalizações:16 + 4 = 20;
  • Ainda usa os dedos para contar em vez de usar estratégias mais avançadas (calculo mental);
  • Má compreensão dos sinais +, -, x e ÷, ou pode confundir esses símbolos matemáticos;
  • Tem problemas com o valor posicional, muitas vezes colocando números na coluna errada;
  • Pode não compreender a linguagem matemática ou não ser capaz de compreender os passos para resolver um problema de matemática;
  • Tem dificuldade em entender frases matemáticas como maior que  e  menor que;
  • Tem problemas para entender tabelas simples como o placar em esportes ou jogos;
  • Tem dificuldade em calcular o custo total dos itens, mesmo com números inteiros;
  • Pode evitar situações que exijam compreensão de números, como jogos que envolvem matemática;
  • Tem dificuldade para compreender unidades de medida (metro, litro, kg) e problemas para medir itens como ingredientes em uma receita simples ou líquidos em uma garrafa.
  • Não tem confiança em atividades que exigem compreensão de velocidade, distância e direções e podem se perder facilmente.
  • Dificuldade em contar para trás;
  • Dificuldade em lembrar fatos ‘básicos’;
  • Fraco senso de números e estimativa;
  • Dificuldade em entender o valor posicional;
  • A adição costuma ser a operação padrão;
  • Altos níveis de ansiedade matemática.

Assim como nos outros Transtornos de Aprendizagem a retenção na série ou reprovação escolar é um drama recorrente para essas crianças.  A retenção é uma estratégia totalmente ineficaz, já que repetir um ano oferecendo o mesmo estímulo novamente não vai mudar o desenvolvimento, fazer mais do mesmo não resolve, é preciso repensar as estratégias e abordagens e traçar um plano que abranja os aspectos e requisitos necessários para a aprendizagem.

Gilmênia Bueno

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